14 de maio de 2011

SOBRE FÓRUM UM MINUTO PARA A DANÇA


Seguem alguns pensamentos/corpos, sobre o Fórum “Um Minuto para a Dança”

Quero sempre louvar as iniciativas que possibilitem estarmos juntos pensando dança. Por isso, quero, aqui, expressar a importância do Fórum “Um Minuto para a Dança” para os profissionais de Teresina. O Fórum a cada ano se consolida mais e propõe uma reflexão sobre os temas relacionados a formação e produção de dança no Estado do Piauí. Esse ano, com o tema “Atitudes contemporâneas para uma dança dialógica” possibilitou-me contatos importantíssimos para ampliar meu entendimento sobre corpo+dança+sentido+ação e inúmeras equações relevantes e possíveis. Quero aqui pontuar dois momentos que merecem, a meu ver, destaque.

O primeiro foi a Palestra e lançamento do livro “O fazer dizer do corpo: Dança e performatividade”, com Jussara Setenta, da Bahia, que conduziu de forma clara e objetiva uma conversa sobre a possibilidade da dança seguir caminhos menos formais, compreendendo os muitos modos de dançar e, principalmente, desistindo do entendimento de separação do corpo com pensamento e idéias. Pois, tratando de tudo que produzimos, tratamos do corpo. É impressionante como precisamos em alguns acasos de muito tempo para dissolver e realmente compreender uma informação. Sempre em conversas, oficinas, vivências ou num papo com colegas, me pego tentando desassociar os processos corporais. Sendo mais claro, é dizer, por exemplo, que a dança tem saído do corpo e buscado questões mais racionais, como se o pensamento fosse algo fabricado fora do corpo, como se muitos dos sentidos e sensações fossem resultados de fatores externos ao corpo. Como se tudo que sentimos e pensamos não fosse fabricado por nós, por nosso corpo. Agora, nessa conversa que Jussara claramente direcionou, saí com esse pensamento desfeito. Ela me atentou para um fato claro, certeiro e preciso. É impossível no mundo atual, diverso e moderno ainda termos a idéia de que uma forma de pensamento anula as demais. É preciso circular as informações e esse foi um momento importante para o exercício dessa prática. Geralmente precisamos ouvir o outro falar para que as idéias que você já tinha se torne mais verdade. Pode até ser uma forma que encontramos de afirmar o que ainda não nos é muito claro. Dança é o fazer dizer de um corpo. Estar no mundo dançando é diferente de está num caixa de banco, dirigindo ônibus, sendo gerente de supermercado, ou médico. Estar no mundo dançando é buscar formas de sempre rever os pensamentos, é sair do lugar de apego, é se colocar disposto a encontrar sentido na singularidade sem esquecer a diversidade.

Outro momento importante foi a palestra “Leituras de dança, leitura de mundo” com Isabel Marques, uma velha conhecida minha por meio de seus livros “Ensino da dança hoje” e “Dançando na escola” que tive acesso ano passado, quando buscava meios de direcionar a Escola de dança que eu trabalhava. Encontrei nesses livros o caminho que buscava trilhar e ter esse momento com ela foi de fundamental importância para a consolidação das informações e também da admiração que já sentia por ela no prazer pelas questões que ela propunha. Foi encantador esse contato com sua obra. Desde então, serviu-me como cartilha a ser seguida no ensino da dança. Isabel trouxe-nos a interface dança/educação. Partindo do princípio de que toda arte educa, fomos embriagados pelas informações que iam aos poucos desfazendo as dúvidas e amarras. “Devemos impregnar de sentido a vida, entendendo sua função no mundo, devemos nos envolver e buscar sentido na relação com a dança que eu faço”. Com muita propriedade ela nos traz Paulo Freire que apostou na educação como forma primordial na busca por sentido na vida dos indivíduos. “Ensinar a ler o mundo”. Isso é função do professor. Precisamos ler além das palavras. Entendo que o processo de leitura vai alem das letras e das infinitas possibilidades de combinação silábica e isso se refere à leitura também de imagens, sons e corpos. Ser critico é saber escolher e para saber escolher é fundamental lermos o mundo. Lendo criticamente o corpo e entendendo corpo como uma rede de relações. Cada corpo em sala de aula é uma rede de relações que englobam etnia, classe, gênero, biótipo... Sendo, portanto, impossível ignorar esses aspectos em se tratando do ensino de dança. Precisamos respeitar a rede de relação que cada corpo é, para que a dança possa fazer sentido. Entendendo dança como conhecimento para perceber, sentir, descobrir e criticar as relações do corpo com o mundo, impregnando de sentido a vida. Precisamos dar aos nossos alunos experiências com o corpo e que por meio da dança eles possam fazer, apreciar e contextualizar o mundo. Entender do eu, do outro e do meio. Vivendo, percebendo e imaginando a sociedade em que estão inseridos.
Posso afirmar, por tanto, que tem sido muito gratificante participar e ser parceiro do Fórum “Um Minuto para a Dança”, que preenche um espaço importante no sentido de formação de pensamento e troca de conhecimento.
Valeu e até as próximas ações.

Valdemar Santos (Diretor Artístico da Organização Ponto de Equilíbrio, Teresina, Piauí, Brasil) 
revisão de texto: Abdon Silva

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