1 de junho de 2011

Por Maneco Nascimento

“Ela” por elas
por maneco nascimento



espetáculo “Ela”, que estreou há um pouco + de três anos, com incentivos da Lei A. Tito Filho, através da Prefeitura de Teresina/Fundação Municipal de Cultura Monsenhor Chaves, assinaturas de Roteiro e Direção de João Vasconcelos e Direção Coreográfica de Valdemar Santos, voltou à cena no último dia 31 de maio de 2011, às 20 horas, no Teatro Municipal João Paulo II.



Dessa volta do estaleiro, a montagem de dança/teatro que, segundo o programa original, “transpõe em seu roteiro fases da mulher universal em que é revisitado o princípio da criação Homem/Mulher desde o nicho primevo(África – berço da humanidade) e aporta no Brasil indígena para em seguida ganhar força recortando o contexto sócio-histórico da revolução industrial (...)” é um muito imberbe espetáculo revisitado.




Natural que haja uma nova visão. Em outro momento e com substituição de bailarinos para a repaginada experiência, mostrada nesse maio de 2011. Á época da estréia, ocorrida com pompas e circunstâncias, tudo foi festejado dentro da estética emblemática, bem depurada, e impacto imagético bem definido.




A dobradinha João Vasconcelos e Valdemar Santos se preservou. No elenco modificado, sobreviveu, da montagem originalElizabeth BáttaliO novo corpo deEla” trouxe as novidades Cleide Fernandomuito segura e eficazBruna Santosestreando profissionalmente sem deixar dúvidas de que foi uma boa escolha ao projeto.




Também compõe essa reestréia Artenildes Afoxá que, com experiência de dança mais livre e de histórico de manifestações afro-descendentes, fica muito aquém do mapa desenhado para uma técnica específica de dança/teatro que se impõe por uma neutralidade dramática econômica e segura, encontrada nas meninas com noções de dança acadêmica.




No corpo de estréiacomo bailarino imposto para o projeto, está Luis do Vale.Personagem chave no contraponto dramático de “Ela”, não consegue dar sangue à arte do fingimento. Ilustra uma imagem sem tônus, nem energia da personagem masculina da dramatização e enfraquece o conjunto. Elas estão por si só. Talvez essaescolha precise ser revista, sob risco da boa experiência do passado cair no pueril.




Mas o “Ela”, de 2011, traz duas crianças que preenchem a cena com mais graciosidade que a performance de 20% do trabalho adultoAlziraRisa e Andresa Báttali refrescam o drama, com propósito dramatúrgico. A inclusão das crianças no ambiente operário, do começo do século 20, atualiza o contexto sociopolítico e denuncia o trabalho infantil.




Os futuros são carregados de memórias confirmadoras do passadoBelchior talvez não tivesse construído memória musical tão legal, como “a felicidade é uma arma quente (...)” (“Saia do meio caminho”), caso não tivesse intertextualizado Beatlestraduzidos por Drummond, em “a felicidade é um revólver quente”. Ninguém está preso ao passado. O passado é parte carne de quem constrói futuros.




O sangue pagão verte-se também de traços divinos e o DNA das memórias é de todos os recortes temporais. Pound e Gaudí deveriam ser leitura obrigatória a quem não acredita no passado. O “Ela” do passado continua sendo a melhor referência para o que se viu nessa nova investida, trazida à cena em 31 de maio último.




O desenho dramático e estético continua fiel ao sinal iniciático quando Elasurgiu. A dramaturgia coreográfica também se impõe. O elenco é que precisa ser melhor depurado, porque senão “Ela” por elas desaparecerá na fogueira das vaidades estabelecidas.


Edição:  Maneco Nascimento  | Fonte:  maneco



Duas Danças






O SESC Amazônia das Artes 2011 trouxe ao palco do Teatro Municipal João Paulo II, na tarde do dia 20 de maio, para público estudantil da região do grande Dirceu, dois espetáculos das cênicas. Resultados de duas companhias distintas, em seus caminhos de nova dança.


O espetáculo do primeiro momento, das 15 horas e 30 minutos, “Palmares”, montagem da Organização Ponto de Equilíbrio – OPEQ, aborda um viés histórico do Brasil afrodescendente, de forma didática e ilustrativa do samba, capoeira, ritos religiosos.


O elenco dançante cumpre bem o papel, tem uma sintonia que vai se fortalecendo com a dialética entre o velho e o novo experimentado. Coreografias horizontalizadas no sentimento do povo negro e sua identidade expandida têm função variável entre o social e o antropológico.


As músicas compostas por Saquá e Ricardo Totte garantem uma energia extra que vem tanto dos poetas escolhidos, entre eles Castro Alves, como das melodias de elaboração de raiz. Os dois músicos presentes desde a estréia da peça musical estão muito à vontade. Os novos integrantes ao grupo de “back vocal”, Jorjão e Cláudia Simone, ainda muito fora da água e terra prometidas.


Jorjão prefere tratar do menos para não comprometer, já a cantora Cláudia Simone, muito empolgada, desvia a atenção do foco principal, os solos e coletivo dos bailarinos. Faz um showzinho à parte, não houvesse limites da direção do conjunto, talvez invadisse a cena. Cria ruídos à comunicação que quer parecer limpa em toda a dramatização musical.


Coreografia e Direção de Valdemar Santos ficam dentro da proposta de release, embora a nova dança aplicada não consiga desviar-se do desenho introjectado do clássico. Mas não fere a arte.


O segundo tratado daquela tarde, “Problema de três corpos”, reúne duas intérpretes-criadoras da Cia. Luzia Amélia. Uma cadeirinha de plástico, cor-de-rosa, e fios de Ariadne costurando o chão de linóleo completam-se com as evoluções das duas bailarinas.


Segundo o release da Cia., “As ações se apresentam como reflexos de acumulações feitas durante a evolução temporal para dar novo significado”. Mover corpos, experimentar planos e penetrar invisíveis. Pulverizar o vazio de notas soltas de corpos em movimento é o que parece ao público comum.


A quem se detenha na cata de ligações direcionais, não as encontra fácil. É um estranhamento, um provocativo do discurso da dança contemporânea fora do círculo aristotélico. Aos de repertórios diversos, meio gesto basta para aproximar qualquer identificação.


Lembra muito projeto, desenvolvido durante algum tempo pelo Núcleo do Dirceu, alcunhado de “Instatâneo”. Dentro da linguagem distanciada de esvaziar + o já pouco preenchido, consegue deixar aberta a porteira da teoria da recepção que encaminha qualquer observador a tirar sua própria conclusão.


“Problema de três corpos” abre uma questão da nova ciência às cênicas para resoluções matemáticas de respostas diversas. E como diz o discurso setentão, de releitura nessa contemporaneidade, “quem não entendeu, que entendesse”.
Edição:  Maneco Nascimento  | Fonte:  maneco

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