27 de novembro de 2015

Ontem na UNB

SEMINÁRIO DE PESQUISA VII: Literatura e outras alteridades

Ontem dia 26 de novembro estive no Auditório do Bloco de Sala Sul (UnB), para mais uma vez acompanhar o Seminário de Pesquisa: Literatura e outras alteridades, que nos proporcionou dessa vez uma conversa com Alessandra Santana Soares da UFBA, com mediação do Igor Ximenes. Alessandra aferiu aos presentes um apanhado de um interessante estudo de obras literárias lançadas num período de quarenta anos que retratas as deficiências, enquadres e enfoques da literatura infanto-juvenil brasileira.

Nesse estudo Alessandra analisa a proposição da presença de diferentes tipos de deficiências na literatura. Foram 150 livros estudados, desses quais: 29 abordam a cegueira e baixa visão. 22, a deficiência mental. 12, com mais de um tipo de deficiência. 24 com temas surdez e “mudez” e 64 com participação de personagens ou assuntos de pessoas com deficiência física motora. 

É um estudo muito interessante que nos possibilita um panorama dessas questões na literatura infanto-juvenil no Brasil. E que de certo modo nos retrata a realidade, tendo em vista que a literatura se inseriu nesse contexto, pois é reflexo da sociedade. Existe legitimidade a iniciativas pessoais, porém Alessandra buscou, de forma arbitrária encontrar meios de limitar sua pesquisa. Sendo que nesse contexto levou em conta a conceito de que autismo e dislexia não são considerados deficiência e sim déficit. Foram respeitados então na sua pesquisa, as deficiências motoras, surdez e deficiência mental. Ela também deu preferencia a obras consideradas por ela mais maduras, e que traziam escritores mais profissionais e consolidados. 

Na realidade baseada na experiência demográfica, não existe mais o termo deficiência física e sim, deficiências motoras. Dentro desse contexto literário a figura do “deficiente físico” teve sua evidencia em virtude da poliomielite no Brasil, e mundialmente falando foi em virtude das guerras, que produziram muitos mutilados.

Especificamente no Brasil o compositor Fernando Mendes na década de 70 gravou a canção “Cadeira de Rodas”, letra abaixo:
Sentada na porta,
Em sua cadeira-de-rodas ficava.
Seus olhos tão lindos,
Sem ter alegria,
Tão triste chorava.

Mas quando eu passava
A sua tristeza chegava ao fim.
Sua boca pequena,
No mesmo instante,
Sorria pra mim.

Aquela menina era a felicidade
Que eu tanto esperei,
Mas não tive coragem e não lhe falei
Do meu grande amor e agora,
Por onde ela anda, eu não sei.

Hoje eu vivo sofrendo e sem alegria.
Não tive coragem bastante pra me decidir.
Aquela menina em sua cadeira-de-rodas
Tudo eu daria pra ver novamente sorrir.

É uma letra inconcebível atualmente com o advindo dos direitos e respeitos humanos, no entanto foi uma canção que vendou milhões de disco e consagrou o cantor e compositor Fernando Mendes, embora revele certo endurecimento dos sentimentos. Tendo uma visão moderna, no momento em que aponta uma sensação de arrependimento por não ter amado a menina por ela está em uma cadeira de rodas, lhe faltou “coragem” de se decidir. É de certa forma uma visão bem cruel pros entendimentos atuais. Pois o tempo modifica nossa forma de entender e enfrentar as questões sociais. Embora ela mesmo assuma que ainda é muito difícil escrever sobre muitos temas e sentimentos humanos, existe muitas regras sociais que por exemplo extingue assuntos que fogem da conduta dita normal de sentimentos pois, é complicado escrever sobre a realidade e o lado ruim de por exemplo ter um filho deficiente, como é o caso do livro “O filho eterno” Num livro corajoso, Cristovão Tezza expõe as dificuldades, inúmeras, e as saborosas pequenas vitórias de criar um filho com síndrome de Down. O autor aproveita as questões que apareceram pelo caminho nestes 26 anos de Felipe para reordenar sua própria vida: a experimentação da vida em comunidade quando adolescente, a vida como ilegal na Alemanha para ganhar dinheiro, as dificuldades de escritor com trinta e poucos anos e alguns livros na gaveta, e a pretensa estabilidade com o cargo de professor em universidade pública. 
Com precisão literária para encadear de maneira clara referências de anos e situações tão díspares, Cristovão Tezza reforça, com a publicação de O filho eterno, seu lugar entre os maiores escritores brasileiros.

Outra informação importante que quero trazer, se refere a línguas brasileiras de sinais, as “libras” que foi oficializada como língua nacional brasileira em 2002. Passando a ser juntamente com o português brasileiro, a língua oficial do Brasil. Entre tantas informações referentes a esse tema Alessandra fez algumas criticas ao fato de, nos muitos casos de aparecerem às libras na literatura, se resumirem ao “alfabeto de sinais”. O que pode gerar a falsa impressão de que a linguagem de sinais se resume ao alfabeto, o que de fato é um grande equívoco, pois, se nos aproximarmos da comunidade que utiliza a linguagem de sinal, saberemos que se trata de uma linguagem bem mais complexa, onde cada palavra e pessoa tem seu sinal. Isso por muitas vezes nos faz acreditar que, através simplesmente do alfabeto de sinais, a libras seja muito reduzida, no seu formato e na sua complexidade, como assim o é em todas outras linguagens. 

Foi interessante esse entendimento, pois segundo ela tivemos um influencia muito forte da televisão em especial da Xuxa, que por muitos anos na década de 90 fomentou a uso do alfabeto de sinal e contribuiu para um entendimento que reduz drasticamente uma linguagem tão rica e complexa como é o caso das LIBRAS. 

Dentro dessa pesquisa foi trazido também pela Alessandra, o fato de que embora o foco de pesquisa dela seja o infanto-juvenil ela constata que as melhores obras são as que não trazem a deficiência de forma prioritária. Muitas obras trazem a existência dos apelos exagerados, que na verdade prejudicam entender a deficiência de forma mais natural. Claro que não é necessário nem nunca será possível, colocar todos nós como iguais. Justamente por acreditar que precisamos sim lutar por direitos a igualdade social, porem não podemos nos esquecer de enfatizar as diferenças, pois são elas que nos fazem pensar especificamente nas limitações, adaptações, e na tão necessária acessibilidade.

Assim concluímos que um bom autor não escolhe público, ele simplesmente escreve. Os melhores autores são aqueles que se dão o prazer de usufruir dessa liberdade de simplesmente escrever. Assim consegue agradar mais leitores independentes de faixa etária. 

Entender que somos diferentes é uma questão chave para o entendimento e respeito às pessoas com deficiência. Pregar o conceito de que todos nós somos iguais, pode gerar conflitos. Precisamos entender que só existe a diferença no que tange o entendimento sobre as limitações. O que pode nos ajudar em algum grau, a entendermos as necessidades de todas as pessoas.

É sempre bom poder ouvir e falar sobre entendimentos e respeito às diferenças.
Boa tarde.
Valdemar Brasília, 27/11/2015


















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